A Mostra de Cinema Indígena, que será realizada no dia 13 de julho na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, promete ser um marco na valorização da cultura ancestral brasileira. O evento integra a programação do São Paulo Audiovisual Hub e contará com a exibição gratuita de 11 filmes produzidos por cineastas indígenas de diversas etnias do país. A Mostra de Cinema Indígena trará obras que transitam entre a ficção, o documentário e a videorreportagem, revelando a pluralidade das narrativas indígenas e oferecendo ao público um mergulho profundo na cosmovisão dos povos originários.
A programação da Mostra de Cinema Indígena se estenderá das 11h às 21h30, oferecendo aos visitantes uma jornada intensa e sensível pelas histórias dos povos guarani, yanomami, munduruku, huni kuin, kuikuro, tukano, tupinambá, ikpeng e guajajara. As produções abordam desde questões ambientais e espirituais até os desafios contemporâneos enfrentados por essas comunidades. Um dos grandes atrativos da Mostra de Cinema Indígena será o bate-papo com realizadores, lideranças e protagonistas, que ocorrerá após algumas sessões e enriquecerá ainda mais a experiência do público.
Entre os destaques da Mostra de Cinema Indígena está o filme Somos Raízes: Guardiões da Floresta, dirigido por Edivan Guajajara. A obra retrata a resistência do povo guajajara no Maranhão, que atua diretamente na proteção da floresta amazônica por meio do grupo Guardiões da Floresta. Outro filme impactante é A Febre da Mata, do diretor Takumã Kuikuro, que narra uma fábula sobre destruição e alerta ambiental por meio de uma onça em chamas que aparece durante uma pescaria. A Mostra de Cinema Indígena se propõe, assim, a provocar reflexões profundas sobre o papel da ancestralidade e da preservação da natureza.
O filme Thuë Pihi Kuuwi: Uma Mulher Pensando, dirigido por Aida Harika Yanomami e outros cineastas da etnia yanomami, revela os rituais ligados à yãkoana, alimento espiritual dos xamãs. Já a produção Aguyjevete Avaxi’i, de Kerexu Mirim, resgata o plantio de variedades tradicionais do milho guarani m’bya em terras antes degradadas pela monocultura. São obras que, mais do que exibir tradições, demonstram a força da retomada cultural e do reencontro com práticas ancestrais. A Mostra de Cinema Indígena, nesse sentido, vai além do entretenimento e assume um caráter político e educativo.
O documentário Wehse Darase – Trabalho da Roça, dirigido por Larissa Tukano, trata da agricultura tradicional como prática viva e reconhecida como patrimônio cultural imaterial. Outra produção que chama a atenção é Rami Rami Kirani, que retrata as primeiras experiências de mulheres huni kuin com o ritual do nixi pae, uma transformação em uma tradição anteriormente restrita aos homens. A Mostra de Cinema Indígena destaca assim não apenas a diversidade entre etnias, mas também dentro de suas próprias práticas e papéis sociais.
Encerrando a Mostra de Cinema Indígena, o filme Mundurukuyü – A Floresta das Mulheres Peixe, produzido pelo Coletivo Daje Kepap Epy, retrata mitos do povo munduruku que explicam a transformação de humanos em elementos da floresta. A riqueza simbólica e o conteúdo mitológico presente nesta obra representam bem o espírito do evento. Os debates que seguem essas exibições contarão com a presença de nomes importantes como Beatriz Pankararu, Geni Núñez e Keretxu Martim, fortalecendo o diálogo entre diferentes mundos.
Com curadoria assinada por Carolina Caffé, Kerexu Martim Guarani e Edivan Guajajara, a Mostra de Cinema Indígena se consolida como uma das mais importantes iniciativas culturais do calendário audiovisual paulista. O evento é uma realização da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e, por sua proposta inclusiva e educativa, deve atrair tanto o público acadêmico quanto interessados em cinema, meio ambiente e direitos indígenas. A Mostra de Cinema Indígena representa uma janela de visibilidade para vozes muitas vezes silenciadas na sociedade.
A realização da Mostra de Cinema Indígena em um espaço como a FAAP, tradicional polo acadêmico e cultural, demonstra a importância crescente da pauta indígena na esfera artística brasileira. Ao reunir cinema, conversa e resistência, a Mostra de Cinema Indígena não apenas exibe filmes, mas promove um reencontro do Brasil urbano com suas raízes mais profundas. A entrada gratuita, mediante credenciamento, torna o evento acessível e democrático. É uma chance rara de aprender diretamente com os protagonistas das histórias que, por muito tempo, foram contadas por outros.
Autor: Abigail Walker